... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso,
da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades,
de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...


Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano III Número 37 - Janeiro 2012

Releitura - Ruy Belo

Ruy Belo (1933-1978) - Nascido em uma pequena cidade no centro de Portugal, Ruy Belo se formou em Direito da Universidade de Lisboa em 1956, e doutorou em Direito Canônico na Universidade São Tomás de Aquino em Roma, em 1958. Devotado católico-romano quando jovem, foi membro da Opus Dei por dez anos, até deixar a organização em 1961. Nesse mesmo ano publicou sua primeira coleção de poemas e começou a estudar Línguas Românicas e Literatura na Universidade de Lisboa. Terminou o curso em 1967 e trabalhou em Madrid como um professor de Português de 1971-1977. Ruy Belo também escreveu crítica literária e traduziu Montesquieu, Saint-Exupéry, Cendrars, Lorca e Borges. Morreu em sua casa em Queluz, nos arredores de Lisboa.
Joan Miró - Blue III
Poema Quase Apostólico

Está sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar

[ in "Aquele Grande Rio Eufrates" ]

Quanto Morre um Homem

Quando eu um dia decisivamente voltar a face
daquelas coisas que só de perfil contemplei
quem procurará nelas as linhas do teu rosto?
Quem dará o teu nome a todas as ruas
que encontrar no coração e na cidade?
Quem te porá como fruto nas árvores ou como paisagem
no brilho de olhos lavados nas quatro estações?
Quando toda a alegria for clandestina
alguém te dobrará em cada esquina?

[ in "Aquele Grande Rio Eufrates" ]

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